sábado, 11 de junho de 2011

do sarau

RETRATO EM LUAR
Cecília Meireles

Meus olhos ficam neste parque,
minhas mãos nos musgos dos muros,
para que um dia vier buscar-me,
entre pensamentos futuros.

Não quero pronunciar o teu nome,
que é a voz é o apelido do vento,
e os graus da espera me consomem
toda, no mais simples momento.

São mais duráveis a hera, as malvas,
que a minha face deste instante.
Mas posso deixá-la em palavras,
gravada num tempo constante.

Nunca tive os olhos tão claros
e o sorriso em tanta loucura.
Sinto-me toda igual às árvores:
solitária, perfeita e pura.

Aqui estão os meus olhos nas flores,
meus braços ao longo dos ramos:
e, no vago rumor das fontes,
uma voz de amor que sonhamos.




MIROSLAV VAJDIĆ
for openphoto.net CC:Attribution-ShareAlike

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